Moravam em um bosque, o pesquisador e a filha, menina pequena que saía todas as manhãs para brincar nas proximidades da cabana. Certo dia o pai viu a filha entrar radiante com uma bela flor que jamais havia visto igual. Aproximou-se da poltrona onde confortavelmente o pai lia um artigo científico como de costume. - Olhe papai, encontrei essa flor caída perto do lago. Mesmo com certa desaprovação olhou com carinho para filha colhendo a flor de suas mãozinhas. - É mesmo uma flor incrível minha pequena, mas ficaria muito feliz se não fosse ao lago sozinha novamente, já lhe disse que não quero que corra riscos. A menina ardilosa como qualquer criança fez-se desconversar e simplesmente perguntou: - Papai porque essa flor é tão bonita? Meio confuso, pegou-se sem uma explicação para a pergunta da filha, que vendo o desconserto do pai apenas deu de ombros e correu cantarolando novamente para fora. Pesquisador formado e amante das teorias não estava acostumado a não ter argumentos para responder as indagações da filha curiosa. Não satisfeito com isso, levantou-se deixando o artigo com que se ocupava cair no chão sem perceber e rumou ao seu 'laboratório' caseiro. Abriu a flor cuidadosamente com estiletes e pinças. Estava determinado a descobrir o que naquela flor a tornava tão atraente aos sentidos de um ser humano, fez diversos experimentos relacionados a cor, aroma e até mesmo sabor daquela espécie que nunca havia visto, talvez nunca tivesse sido catalogada, podia ser uma descoberta e o crédito seria seu se levasse seus estudos à comunidade de botânica da qual era colaborador e associado. Depois de longas horas debruçado sobre a bancada, dezenas de observações e centenas de anotações, voltou satisfeito para sala onde a filha desenhava deitada no chão. - Pequenina, lembra-se mais cedo quando me perguntou sobre a beleza daquela flor? A menina desviou os olhos do desenho para ouvir o que o pai tinha a dizer. Balançou a cabeça afirmativamente e levantou-se para chegar mais perto. - Venha cá quero lhe mostrar uma coisa! - tomou a pequenina mão e guiou-a para seu laboratório, sentou com a filha no colo e começou: - Está vendo esse vidrinho aqui, eu decompus as cores do seu pigmento, e descobri que essa coloração é a responsável pela beleza da cor, o cheirinho gostoso dela é por causa dessas micropartículas de pólen que nenhuma outra flor tem. Seu formato curvilíneo, ativa informações no cérebro humano que remetem à felicidade. E sua textura lembra a pele macia de uma criança linda como você. Por isso ela é tão bonita minha filha. A pequena olhava tudo com atenção, via as pequenas pétalas dissociadas e espetadas com alfinetes na bancada de trabalho do pai. Ficou em silêncio e procurou os olhos do pesquisador para poder falar: - Sabe de uma coisa papai? - ele nada disse esperando a conclusão da filha que com toda inocência prosseguiu: - Ela parecia muito mais bonita quando estava inteira. - fitou mais uma vez todas aquelas anotações e desenhos desceu do colo do pai e voltou para sala, deixando-o mais uma vez sem explicações.
-Você confia em mim? -Mais do que em mim mesma. Ele disse: - Ande eu espero que entenda. - Não compreendo. - respondia confusa. - Pequena, eu quero um tempo... Era o pé da conversa em que ela já não entendia mais nada. Podia rosnar e reclamar, mas ela havia dito que confiava nele. - Mas, mas eu.. - Não há mais nada que eu possa dizer que vá te ajudar, eu só espero que fique bem. Parecia-lhe impossível naquele momento. Apenas chorou, pensou em lhe dizer injúrias pensou em muita coisa, quis que o mundo acabasse naquele momento, mas ainda assim achou mais conveniente manter a boa educação. - Eu te amo. - aquela era sua resposta final. Esperaria o quanto fosse necessário, e da mesma forma se manteria orgulhosa do que tinha vivido até ali. - Boa sorte - sorriu desejando que aquilo não durasse por muito tempo.