sexta-feira, 6 de abril de 2012

A Flor, a Criança e o Pesquisador


Moravam em um bosque, o pesquisador e a filha, menina pequena que saía todas as manhãs para brincar nas proximidades da cabana. 
Certo dia o pai viu a filha entrar radiante com uma bela flor que jamais havia visto igual. Aproximou-se da poltrona onde confortavelmente o pai lia um artigo científico como de costume.
- Olhe papai, encontrei essa flor caída perto do lago.
Mesmo com certa desaprovação olhou com carinho para filha colhendo a flor de suas mãozinhas.
- É mesmo uma flor incrível minha pequena, mas ficaria muito feliz se não fosse ao lago sozinha novamente, já lhe disse que não quero que corra riscos.
A menina ardilosa como qualquer criança fez-se desconversar e simplesmente perguntou:
- Papai porque essa flor é tão bonita?
Meio confuso, pegou-se sem uma explicação para a pergunta da filha, que vendo o desconserto do pai apenas deu de ombros e correu cantarolando novamente para fora. Pesquisador formado e amante das teorias não estava acostumado a não ter argumentos para responder as indagações da filha curiosa.
Não satisfeito com isso, levantou-se deixando o artigo com que se ocupava cair no chão sem perceber e rumou ao seu 'laboratório' caseiro. Abriu a flor cuidadosamente com estiletes e pinças.
Estava determinado a descobrir o que naquela flor a tornava tão atraente aos sentidos de um ser humano, fez diversos experimentos relacionados a cor, aroma e até mesmo sabor daquela espécie que nunca havia visto, talvez nunca tivesse sido catalogada, podia ser uma descoberta e o crédito seria seu se levasse seus estudos à comunidade de botânica da qual era colaborador e associado.
Depois de longas horas debruçado sobre a bancada, dezenas de observações e centenas de anotações, voltou satisfeito para sala onde a filha desenhava deitada no chão.
- Pequenina, lembra-se mais cedo quando me perguntou sobre a beleza daquela flor?
A menina desviou os olhos do desenho para ouvir o que o pai tinha a dizer. Balançou a cabeça afirmativamente e levantou-se para chegar mais perto.
- Venha cá quero lhe mostrar uma coisa! - tomou a pequenina mão e guiou-a para seu laboratório, sentou com a filha no colo e começou:
- Está vendo esse vidrinho aqui, eu decompus as cores do seu pigmento, e descobri que essa coloração é a responsável pela beleza da cor, o cheirinho gostoso dela é por causa dessas micropartículas de pólen que nenhuma outra flor tem. Seu formato curvilíneo, ativa informações no cérebro humano que remetem à felicidade. E sua textura lembra a pele macia de uma criança linda como você. Por isso ela é tão bonita minha filha.
A pequena olhava tudo com atenção, via as pequenas pétalas dissociadas e espetadas com alfinetes na bancada de trabalho do pai. Ficou em silêncio e procurou os olhos do pesquisador para poder falar:
- Sabe de uma coisa papai? - ele nada disse esperando a conclusão da filha que com toda inocência prosseguiu:
- Ela parecia muito mais bonita quando estava inteira. - fitou mais uma vez todas aquelas anotações e desenhos  desceu do colo do pai e voltou para sala, deixando-o mais uma vez sem explicações.

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